LIVRO ABORDA ASSASSINATO DA MÃE DE CARLOS GOMES

Publicado no Jornal Correio Popular - 18/12/2016 - 16h03 - Atualizado 18/12/2016 - 16h04 - Por Fábio Trindade

LEANDRO FERREIRA/AAN
Marchi de Queiroz lança 'Quem Matou a Mãe de Carlos Gomes?' na Academia Campinense de Letras: "Fui montando esse quebra-cabeça"

Dois assassinatos chocaram a pequena e pacata cidade de Campinas no ano de 1844. O primeiro aconteceu na madrugada de 25 para 26 de julho daquele ano, quando a jovem Fabiana Maria Jaguary Cardoso, de 28 anos, foi encontrada morta no que hoje é conhecido como Largo do Mercadão Municipal com um tiro e quatro facadas. O segundo aconteceu na noite seguinte: Francisco Zuanda, um ex-escravo, que era o principal suspeito justamente pelo assassinato de Fabiana.
Alforriado graças ao Mestre Tito de Camargo Andrade, Francisco, ou Chico, como era conhecido, chegou a Campinas no próprio dia 25. Ele foi preso pois era o único que circulava pela região onde o corpo de Fabiana foi encontrado e estava com três moedas de ouro no bolso, um dinheiro que provavelmente um ex-escravo jamais teria. Mas Chico foi sequestrado da antiga cadeia de Campinas, instalada onde hoje está o monumento-túmulo do maestro Carlos Gomes, e morto a pauladas na madrugada. Ou seja, provavelmente uma queima de arquivo. O corpo foi encontrado na Fazenda Chapadão, que hoje é do Exército Brasileiro, mas na época pertencia aos parentes da rica fazendeira Maria Luzia Nogueira de Sousa Aranha, que depois se tornou a segunda baronesa e primeira viscondessa de Campinas.
Maria Luiza, claro, também se tornou suspeita de ter mandado matar os dois. Assim como o marido de Fabiana, o mulherengo e 23 anos mais velho que ela, Manoel José Gomes, com quem teve dois filhos. Maneco, como era conhecido, conseguiu uma testemunha que disse que ele estava num clube de cartas de Campinas naquela noite. Maria Luiza, nem precisa dizer, era poderosa demais para se ver envolvida em assassinatos. Sobrou ainda para um ilustre jovem da alta sociedade campineira que simplesmente desapareceu depois do ocorrido, mas não se sabe a identidade dele e se havia uma ligação com as vítimas. Portanto, os assassinos nunca foram pegos.
Dizem que um inquérito policial foi instaurado na época, mas esses documentos nunca foram encontrados e, até hoje, resta a dúvida sobre quem estava por trás dos crimes e o motivo. Só se sabe da existência desses assassinatos porque um dos filhos de Fabiana era ninguém menos que o grande maestro Carlos Gomes, provavelmente o mais ilustre campineiro de todos os tempos, mas que tinha apenas 8 anos quando perdeu a mãe. 
Exatamente por isso, mais de um século depois, um ex-delegado de polícia, com mais de 30 anos de experiência em investigações, decidiu reabrir o caso e mapear tudo o que aconteceu na época para tentar chegar a um veredito. O delegado em questão é Carlos Alberto Marchi de Queiroz e a investigação virou o romance policial 'Quem Matou a Mãe de Carlos Gomes? Se Sà Minga' (Pontes Editores, 215 págs., R$ 40), que será lançado nesta segunda-feira (19), às 17h, na Academia Campinense de Letras (ACL).
“Em 2012, eu dei uma palestra em São Paulo sobre a história da Polícia, quando eu ainda era delegado, e a querida cantora Niza de Castro Tank, ao final, me perguntou: ‘você, como todo esse conhecimento, me diga: quem matou a mãe de Carlos Gomes?’”, lembra Carlos Alberto, que é membro da ACL há cerca de um ano, ocupante da cadeira número 22. “Eu respondi que não sabia, mas prometi a ela que iria investigar. E foi o que eu fiz. Adquiri cerca de 30 obras sobre Carlos Gomes e comecei a colher tudo o que eu encontrava sobre o assassinato. Mas poucas obras davam detalhes disso, metade mais ou menos, então peguei um ponto aqui e ali e fui montando esse quebra-cabeça”, explica.
O acadêmico conta, por exemplo, que o nome da baronesa só foi envolvido nos crimes em um artigo de Benedito Octavio de 1916 e que o assassinato do ex-escravo Chico foi citado pela primeira vez só na década de 70. “Os crimes foram cometidos pela elite campineira, então claro que muita coisa se perdeu. A única pessoa que realmente fala claramente e diz inclusive quem matou Fabiana é o escritor carioca Rubem Fonseca (que aborda a vida de Carlos Gomes em O Selvagem da Ópera). Ele veio para Campinas, pesquisou, e chegou a essa conclusão. Mas tudo é muito delicado, eu levanto toda a ficha e a apresento ao público”, diz.
Carlos Gomes, apesar da pouca idade, sofreu muito com a morte e levou o ocorrido para toda a sua vida, afirma o autor. “Muitas das óperas assinadas por Carlos Comes acabam em mortes de mulheres, que foram assassinadas a facadas. Amigos próximos do maestro, que o biografaram inclusive, pulam o período de 7 a 15 anos do Carlos Gomes. Ninguém fala no assunto. Trata-se de um crime insolúvel que pouca gente sabe e por isso quis contar essa história.”

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