CRISE ECONÔMICA AMEAÇA FECHAR UNIDADES POLICIAIS

MATÉRIA PUBLICADA NO JORNAL CORREIO POPULAR DIA 26/07/2017

A crise que afeta a Polícia Civil do estado de São Paulo há pelo menos cinco anos, com a falta de contratação de novos policiais, agora atinge a prestação de serviços essenciais e pode culminar no fechamento temporário de algumas unidades. O alerta consta em um comunicado interno da instituição, assinado pelo delegado-geral de polícia adjunto, Waldir Antônio Covino Júnior, e transmitido na tarde da última segunda-feira, via e-mail, aos delegados de todo o estado, mas que vazou na terça-feira à tarde para a imprensa.
 
No documento, Covino pede a formulação de um plano de contingenciamento que minimize o impacto da “absoluta indisponibilidade financeira”. “Ante a situação alarmante, solicito seja efetivada, sob coordenação dessa diretoria, verificação nas contas das unidades de despesa e, considerando os recursos assumidos, seja elaborado plano de contingência, apresentando quais atendimento serão suspensos e os períodos respectivos”, cita o delegado-geral, frisando que esse plano deverá ser enviado até amanhã.
 
A diretoria trabalha até com a hipótese da frota de viaturas nas ruas diminuir por não haver dinheiro nem para o combustível. “Exemplificando: sem possibilidade de novas aquisições de materiais de consumo, quais unidades deverão ser temporariamente suspensas e a partir de qual data; sem recebimento de recursos suplementares para despesas com combustíveis, a partir de quando não será possível abastecer viaturas e aeronaves” , diz o texto.
O delegado-geral adjunto justifica o pedido logo no começo do e-mail dizendo que “é do conhecimento de todos a caótica situação orçamentária enfrentada pela Polícia Civil no corrente exercício financeiro”.
 
De acordo com Covino, outros procedimentos foram realizados anteriormente para amenizar a crise, mas não tiveram sucesso. “O que faz com que se avizinhe quadro de absoluta indisponibilidade financeira, até mesmo para amparar despesas essenciais à manutenção das unidades existentes”, escreveu.
“Se levarmos adiante esse plano de cortes, a Polícia Civil vai ter que parar. Não temos como cortar mais nada. Os policiais já trabalhavam com o mínimo e agora vão ter que cortar mais? Entendemos que o país vive uma crise, mas não é admissível o corte total de serviço essencial para a população. Não tem como aceitar isso”, Reagiu o presidente do Sindicato dos Policiais Civis da região de Campinas, Aparecido Lima de Carvalho.
Secretário nega
Em entrevista coletiva na capital paulista, o secretário de Segurança Pública, Mágino Alves, garantiu que “não há falta de recursos para a Polícia Civil” e que a mensagem do delegado-geral adjunto foi precipitada, uma vez que já havia um pedido de suplementação orçamentária para liberação na Secretaria da Fazenda, com aval da Secretaria de Planejamento e Gestão, no valor de R$ 4,134 milhões. “Não há essa crise que ele (Covino) dimensiona na mensagem. Posso assegurar para a população que não vai fechar distrito, que não vai faltar combustível para viatura, que não vai faltar material para que a polícia trabalhe”, disse o secretário, que justifica a falha de Covino ao fato de ele assumir há pouco tempo o cargo, uma vez que o titular está fora.
 
O pedido de Covino aconteceu no mesmo dia em que o governador Geraldo Alckmin (PSDB) entregou 72 novas viaturas para a Polícia Militar da capital e anunciou a autorização para a abertura de dois concursos públicos que vão reforçar os quadros da corporação com mais de 2,4 mil agentes.
A Polícia Civil paulista sofre com a falta de funcionários e, segundo levantamento dos sindicatos dos delegados dos policiais civis, a instituição sofre com um deficit de quase 10 mil profissionais, sendo que cerca de 600 são de delegados. “Quatro milhões não dá para suprir os gastos que temos com limpeza e manutenção das delegacias. Precisamos de R$ 34 milhões para suprir as necessidades da Polícia Civil. Não tem lógica o governo estadual dizer que não tem dinheiro, pois no início do ano ele anunciou um superavit de R$ 1,5 milhão. Para onde foi ou vai esse dinheiro? Estamos há cinco anos sem reajuste salarial porque ele alega falta de dinheiro e agora temos que trabalhar com o mínimo do mínimo. Isso é uma vergonha e consequência de uma péssima gestão”, criticou a presidente do Sindicato dos Delegados, Raquel Kobaschi Gallanati.
 
Apesar de o pedido de Covino ter revoltado, policiais civis de Campinas garantem que o delegado fez bem em ter enviado o comunicado, uma vez que ele reflete e traz a público a realidade das unidades. De acordo com os policiais, por falta de investimento que reflete na falta de material humano e de apoio, as investigações quase que não existem. Os processos acumulam nas delegacias e muitas das vezes crimes que deveriam ser apurados pela polícia judiciária, estão sendo feitos pelo Ministério Público ou Polícia Militar. “Hoje, eu me envergonho de ser policial civil. Estamos com as mãos atadas. Não temos viaturas descaracterizadas suficientes para fazer trabalho de ‘campana’. Não temos investigadores e escrivães, não temos equipamentos, enfim não temos nem papel higiênico. A impressão é que o governo quer acabar com a Polícia Civil aos poucos”, desabafou um policial, que pediu para não ser identificado.
 
Segundo policiais civis, na terça-feira, a Unidade Gestorade Campinas informou que não tinha mais verba para comprar papel sulfite para impressão de boletins de ocorrência. A orientação era economizar.
 

Att,
Aparecido Lima de Carvalho
Presidente Sinpol Campinas / Feipol Sudeste