Assim não é possível, Delegado Olim

 

Resposta ao video em que o Delegado e Deputado Olim encontra-se tecendo elogios ao Governador Geraldo Alckmin. 

 

Por: Eumauri Lúcio da Mata (*)

 

Confesso que fiquei estarrecido ao receber, através do aplicativo whatsapp, o discurso proferido pelo nobre colega, deputado Olim. Ele aparece em alguma inauguração, ao lado do inimigo número um da Polícia Civil, o governador Geraldo Alckmin. Por ser o delegado Olim um policial civil, acreditávamos que ele jamais se prestaria a tamanho desserviço para com a Instituição.

Ele elogia o governador pelas novas viaturas entregues aos presídios, por transportar presos com dignidade. Ele lembra ser do tempo em que as delegacias eram cheias de condenados dentro de distritos e que foram os governos do PSDB que tiraram todos os presos e deixaram a Polícia Civil trabalhar. Depois elogia a SAP (Secretaria de Assuntos Penitenciários) por proteger a população e os presos dentro dos presídios, mantendo a ordem, sem haver um problema para fora das muralhas. Elogios eloquentes ao governo e sua equipe.

Muito me espanta, delegado Olim. O senhor sabe bem que a história não é bem assim. O governo estadual é refém de uma facção criminosa que atua dentro e fora dos presídios paulistas e já expandiu filiais para todos os demais estados brasileiros. E que essa mesma facção já causou pânico e deixou o Estado em regime de total atenção, com toque de recolher, quando promoveram queimas de coletivos e ataques a unidades policiais, matando dezenas de policiais civis, militares e até bombeiros.

Mas vamos nos ater à nossa área, delegado Olim. O senhor sabe que não adianta só tratar o preso com dignidade. O senhor deveria defender também que o governo tratasse com dignidade quem combate o crime. Os policiais civis e militares que estão nas ruas há quatro anos sem qualquer percentual de reposição salarial e agora vão receber uma esmola de 4%.

O senhor deveria defender a Polícia Civil, Instituição onde faz carreira desde 1992. Chegou a conhecer, mesmo que rapidamente, a administração de um governo que não seja do PSDB. E, como todos nós, vem padecendo ao longo dos anos com os sucessivos governos deste partido que é inimigo dos policiais civis e está no poder desde 1995, começando com Mário Covas, passando por Alckmin várias vezes, José Serra e Alberto Goldman.

Mas se não tem ideia formada, se foi durante as gestões do PSDB que o senhor construiu sua carreira, não há como negar que trabalhou com muita gente que conheceu o prestígio e o reconhecimento dos policiais civis e sabe quanto mal Alckmin e seu PSDB fizeram à nossa Instituição.

Sucateada é a palavra que melhor define a Polícia Civil hoje em dia. De que adianta, delegado Olim, viaturas novas se não há quem possa conduzi-las? De que adianta, delegado Olim, equipamentos de alta tecnologia se não há quem possa utilizá-los? De que adianta investimentos milionários para aparecer na campanha eleitoral do governador, que almeja ser presidente da República, se não recebemos um salário digno?

Sabe delegado Olim, cheguei a acreditar que nós, policiais civis, tínhamos finalmente conseguido eleger alguém para nos defender. Um de nós. Mas este seu discurso foi colo a pá de cal sobre a sepultura da Instituição.

Não é possível que o senhor não enxergue o que Alckmin faz com a Polícia Civil. Há uma gritante falta de recursos humanos. Nunca tivemos um número tão baixo de policiais civis, a grande maioria em vias de se aposentar. Se isso acontecer, quem vai desenvolver o papel de Polícia Judiciária, senhor delegado Olim?

Justamente o senhor, que se elegeu deputado com os votos de quem acredita na Polícia Civil e quer o seu melhor, foi capaz de elogiar nosso maior algoz. Alckmin tem tentado, de todas as formas, acabar com a Polícia Civil.

O senhor acompanhou de perto tudo isso. Ele criou essa famigerada Reengenharia, que é juntar nada com coisa nenhuma para dar a impressão que tem policiais civis em número suficiente. Delegacia não se fecha. Se abre mais, para melhor atender nosso verdadeiro patrão, a população. Mas Alckmin fechou às centenas e dificultou o acesso do povo. Para ele foi bom, porque muita gente deixou de registrar ocorrência e, estatisticamente, "baixou a criminalidade".

Mas como contratar sem um salário decente, não é mesmo, delegado Olim? O senhor sabe bem da nossa situação. Os salários pagos aos policiais civis do Estado estão entre os mais baixos do País. Aliado à falta de policiais civis para executar o trabalho de forma minimamente satisfatória, o quadro é de caos. O senhor está prestando um desserviço à Instituição que defendeu com brilho durante anos. Está agindo exatamente como seus pares da ALESP (Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo). Parece que tirando o PT e o PSB, todos os demais partidos são subservientes ao governador, ele aprova o que quer.

Mas o senhor não podia fazer isso com os policiais civis. Justamente o senhor, que ganhou projeção nacional coordenando o trabalho de sua equipe, que elucidou o assassinato da advogada Mércia Nakashima e fez a população acreditar que a Polícia Civil ainda respirava, mesmo que com a ajuda de aparelhos. Quero crer que foi um ato falho e o senhor vai voltar a ver com quem está a razão.

(*) Eumauri Lúcio da Mata é investigador aposentado e presidente do Sinpol (Sindicato dos Policiais Civis da Região de Ribeirão Preto)

Att,
Aparecido Lima de Carvalho
Presidente Sinpol Campinas / Feipol Sudeste